quarta-feira, dezembro 12, 2012

António Peralta, O pintor que esculpia histórias

António Peralta isolou-se num período da sua vida, quase ninguém tinha conhecimento que ele fazia estes baixos-relevos na altura separando-os do seu trabalho habitual de arte de carpinteiro de obra grossa. Praticamente desconhecido, inclusive no meio artístico, teve agora a sua merecida exposição no Museu de Etnologia de Lisboa.
Aqui está o texto e as imagens da exposição:

António Peralta em sua casa a receber os visitantes de Lisboa (1979?) Foto de Vitor Simões

António Peralta (1919-1984) nasceu em Vila Nova do Coito (Almoster) onde residiu grande parte da sua vida. Foi carpinteiro de muita obra, desde o travejamento e emadeiramento da casa em construção, ao mobiliário, alfaia agrícola e outro equipamento doméstico ou da lavoura.

No começo da década de 1950 vive com a sua companheira na aldeia vizinha de Alforzemel, na casa que está a concluir e onde tem a sua oficina. Quando a conhecemos, falou-nos daquela intensa relação e do interesse de Peralta pela leitura. Daí ela dizer saber de memória o Amor de Perdição que o companheiro lhe lia em voz alta. Virão em breve os anos de ruptura desta ligação, e um progressivo isolamento afasta-o do convívio de familiares e vizinhos. Estes, aparentemente, não vieram a ter conhecimento e nada nos podem dizer da sua obra de artista.

Sabemos que no começo dos anos de 1960 já fazia quadros como os que mostramos, talvez mesmo alguns dos que aqui podemos ver. E é também naqueles anos que deixa de aceitar trabalhos de obra grossa como os que antes fazia.

Peralta vinha a Lisboa de camioneta, na carreira do Vinagre, e colocava os seus quadros em estabelecimentos em vários pontos da cidade, sem que saibamos ainda os motivos ou o puro acaso dessa escolha. Temos notícia, por exemplo, de lugares na Rua da Palma, Rua Barros Queirós, Rua Cecílio de Sousa, ou um adelo entre Alfama e St.ª Apolónia. Ali viriam a despertar o olhar e o fascínio daqueles que, pelos canais da amizade e de cumplicidades sociais e estéticas, partilharam essa revelação.

A pesquisa que conduzimos, inspirada pelas duas exposições antes feitas nas Galerias Trem e Arco (Faro, 1996) e na Galeria Novo Século (Lisboa, 1998), permitiu reunir cerca de uma centena de quadros e tomar conhecimento de muitos outros que não vieram a ser contemplados nesta exposição. São um espaço em aberto para múltiplas interrogações de uma obra cuja leitura não se esgota na enumeração dos temas, e encontrará muito do seu sentido na própria exigência formal e na execução material que o autor nelas imprime. Uma obra que ajuda a colocar questões para uma antropologia da construção do indivíduo e das formas de interrogar o mundo.

A exposição tornou-se possível pela disponibilidade, generosidade e entusiasmo dos coleccionadores da obra de António Peralta que acrescentaram ao empréstimo dos quadros as preciosas informações sobre as circunstâncias da sua aquisição e a expressão da emoção e dos afectos que neles se projectam.

 Passagem dos tempos
 
Rebento

 






























































 Evoluções


 Fruto do Amor . O primeiro adquirido por Carlos Barroco. 
Aquele por onde terá começado a irradiação do interesse pela obra do autor
 Morte, união e esperança


 Quando os hábitos mudam

Mesa com alguns instrumentos de trabalho e o 
quadro Fé, esperança e caridade (1979 ?) Foto de Vitor Simões