terça-feira, dezembro 11, 2012

Três quilómetros em vias de extinção

Texto de Manuel Vitorino e Artur Machado
"É um dos arruamentos mais antigos e compridos do Porto. Tem mais de três quilómetros e a placa toponímica ostenta um nome bonito Rua do Bonjardim. Por detrás da fachada há misérias: prédios abandonados na mira da especulação, um chalé, ao chegar ao Marquês, do século XIX , comércio decadente e muita gente idosa. "Há 15 anos fazia bastante negócio. Agora é um deserto", conta Ana Gonçalves, uma das comerciantes que resiste à desertificação deste núcleo urbano da cidade.

Há alguns ofícios em vias de extinção nesta rua de indiferençasum alfarrabista de preciosidades bibliográficas à mistura com o artesão de balanças antigas, mais o mecânico de máquinas de costura. E muito comércio: pomares e mercearias, como "A Generosa", com mais de um século a "vender hortaliças e frutas", pensões tipo "sobe e desce" nas traseiras do Palácio dos Correios ("sempre foi assim e assim será", ouve-se), restaurantes,casas de petistos. Até uma loja de perucas, única no Porto, lá existe. A artéria, porém, precisa de sangue novo.

"Desde que as pessoas saíram daqui [Bairro do Leal] vendemos menos medicamentos", diz Pedro Gonçalves, da Farmácia Oriental, com 130 anos de existência, situada entre as ruas das Musas (onde nasceu o poeta José Gomes Ferreira) e de João das Regras, onde viveu Camilo Castelo Branco. Por perto, há mais prédios a pedir reabilitação. Um deles, no número 824, viveu Artur Loureiro, escultor e pintor paisagista. A placa, carcomida pelo tempo, colocada na fachada traduz anos de abandono.E lembra que a falta de memória da cidade espreita ao virar de cada esquina.

No gaveto do Bonjardim com a Rua de Rodrigues Sampaio, uma casa nobre agoniza perante a indiferença de vários poderes. É lá que está a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Até agora, todas as promessas foram inúteis. "Temos projecto e candidatura. Falta-nos uma parte dos financiamentos", assegura Francisco Duarte Mangas, presidente daquela associação.

A Rua do Bonjardim já foi estrada romana e caminho medieval para Guimarães. Hoje, é atravessada por vários eixos viários começa em Sá da Bandeira e termina junto ao Marquês. Ainda tem alma.Mas pouca gente cá vive."

in, Jornal de Notícias



A Rua do Bonjardim será porventura a mais estranha e rica das ruas do Porto. Quem der um passeio de reconhecimento e deleite por esta rua aperceber-se-á disso. Começando então pela, por falta de melhores termos, geografia - quererá o visitante começar pelo topo, à Praça do Marquês junto à Igreja e daí em diante descer vagarosamente e confrontando-se a cada esquina com o aparente término da rua.
Pontos a salientar: o chalé de côr "verde abandonado"; as escadas beco sem saída; o tasco dos polícias e do bagaço limpa-mesas; a casa de tabacos fechada atrás do Big Ben; o jardim

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