sexta-feira, março 14, 2014

Cemitérios de Carros, Revista ACP, número 1 & 2 de 1960

As revistas estrangeiras trazem com frequência referências a curiosíssimos «cemitérios» de automóveis. Na Europa e na América existem centenas desses parques, os quais recebem os mais diferentes modelos de veículos. Carros velhos e carros com meio uso, todos ali se irmanam na mesma sorte, esperando o comprador que sempre tarda em chegar ou aguardando o mecânico especializado que os transforma em sucata.
    Em Portugal, embora em número reduzido, também existem os «cemitérios» de automóveis. Os mais famosos desses parques encontram-se em Lisboa e no Porto, como é natural. Na capital, nas proximidades de Alcântara. É o Alvito! Na Cidade Invicta, na Senhora da Hora e nos Carvalhos! Modestos barracões, prédios antigos ladeando velhas ruas., esses locais são hoje conhecidos no meio automobilístico pelas
    De tudo um pouco há nos «cemitérios» de automóveis! Pode-se afirmar que  uma visita a esses verdadeiros museus de antiguidades, proporciona aos apaixonados de coisas velhas uma das mais pitorescas digressões.
    Os locais começam a despertar curiosidade, mal deles nos avizinhamos.
    Os estabelecimentos da especialidade chamam imediatamente a nossa atenção. Lojecas pequenas e modestas e, como é natural, escuras e com certa ausência de limpeza, factor que igualmente faz parte do interesse «histórico»- vale a pena entrar e observar.
    Como ornamentos habituais das fechadas, lá vemos radiadores de todas as marcas e de todos os modelos: pára-choques que na sua infância foram cromados e hoje se contentam com uma modesta imitação; volantes de direcção que jazem saudosos das mãos firmes que os guiavam; chapas de matrícula de remotas séries, a testemunhar a idade do «falecido»; tampões de rodas aos montes; óptimos pára-brisas que, em caso de aflição, são a salvação de quem pediu o carro emprestado... Ferramentas e acessórios cobrem grande parte do pavimento, qual pirâmide de ferro velho a descansar das fadigas e a aguardar melhores dias. Continua-se a visita. O melhor que estes cemitérios nos reservam está porém para vir. Os estabelecimentos, à primeira vista, são idênticos aos que já se admiraram. Como nota curiosa, será interessante referir a existência de um «magnífico» carro de sport, pequenino mas veloz ( noutro tempo evidente) que ali está parado pronto a arrancar, conduzido por quem resolver dar por ele a módica quantia de mil e quinhentos escudos. Um automóvel pelo preço de um fato, faz pensar que só por gosto de anda a pé...
    Noutros pontos os comerciantes dispõem quase todos de amplos recintos nas traseiras dos estabelecimentos onde dão guarida às guaridas mais volumosas. Ali se encontram carcaças de automóveis de todos os tamanhos e feitios, potentes motocicletas que possivelmente chegaram a alinhar em pistas de corrida, havendo porém alguns veículos que , embora velhinhos, ainda apresentam muito bom aspecto exterior.
    Prossegue a digressão «histórica» e então, principalmente para quem lá for pela primeira vez, é a surpresa! Por todos os lados, como se de verdadeira feira de raridades se tratasse, surge um autêntico estendal de ferro-velho e de restos de automóveis amontoados uns sobre os outros, que deixa o visitante por longos minutos preso a qualquer dessas atracções.
    Entra-se num desses parques e logo deparamos com as carcaças de velhos carros que ali despojados de rodas e de tudo mais, completamente adormecidos e conformados com a sua sorte. Lá mais em baixo, entre montes disformes de sucata, outros modelos estão «expostos», esperando o primeiro comprador que apareça e tenha a coragem suficiente para adquirir aquelas «preciosidades».
    Noutro lado, veículos pesados ou o que resta deles dormem o sono eterno, cobertos de pó, de lixo, de ferros torcidos. Aqui procura-se pôr em ordem de marcha um pequeno utilitário que já há muito deixou de ser jovem. Ali querem-nos convencer que um carrito de série 18 está ali... só por amizade ao famoso local. Tudo se alberga nos cemitérios, irmanado no mesmo destino. E embora custe acreditar, até autocarros de carreiras de serviço público transpuseram os portões da Senhora da Hora, dos Carvalhos ou do Alvito, para descansar enfim das sucessivas viagens pelas estradas do país.
 Em primeiro plano, amontoadas umas sobre as outras, diversas peças de veículos ligeiros e pesados, que um dia rodaram pelas nossas estradas; ao fundo o Tejo, dando uma nota de alegria, neste mundo de sucata enferrujada
 A desmontagem dos acessórios constitui a primeira fase das operações, nos cemitérios de automóveis. Este pára-choques talvez volte a prestar serviço
Uma imagem do cemitério de automóveis da Senhora da Hora ( Porto)
Até autocarros das empresas de viação, se vêem entre as carcaças dos velhos carros que o tempo enferruja..
No meio de tantos carros "condenados" , há quem se esforce para salvar alguns .

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