quarta-feira, janeiro 24, 2007

Ocupação de radiotelescopio




Ultrapassa a imaginação de qualquer um poder subir uma máquina de milhares de dolares como esta e brincar com ela.”--Robert Adrian X

Sete anos depois da retirada do Exército Soviético,um radiotelescópio de 32 metros de diâmetro na floresta Iberne perto de Ventspils, um porto de trânsito de petróleo no oeste da Letónia, foi ocupado mais uma vez – desta vez por um exército fortemente armado manuseando laptops, cameras de video, scanners, quilómetros de cabo, caixotes cheios de jacks e plugs, e teoria suficiente para confundir os físicos de laboratório. Organizado por Raza Smite e Raitis Smits, cofundadores do E-Lab/RIXC (Riga Center of New Media Culture, http://rixc.lv) e Derek Holzer, o simpósio de acoustic.space.labteve lugar de 4 a 12 de Agosto entre o Ventspils International Radio Astronomy Center (VIRAC) e Riga. Artistas de media e activistas juntaram-se para explorar o interface netre arte e tecnologias de comunicação, e para lançar o Programa de Pesquisa Internacional da Acústica-Espacial. Participantes que viajaram para ter a oportunidade de deslizar pelo prato fora incluindo L'audible, Radioqualia, Sara Kolster, Robert Adrian X, Radio 90, Siksika Media, Digibodies, Makrolab, Clausthome, rigasound.org and ambientTV.NET.

Em 1993, o Exército Soviético retirou-se dos Estados Bálticos, revelando a existência de um centro de espionagem perto de Ventspils usado para espiar os satélites de espionagem ocidentais. Das três antenas no local, os russos levaram o prato mais pequeno, mas os pratos de 16 mts e 32 mts eram demasiado grandes para mover. Sobre a pressão da comunidade internacional de radioastronomia, o exército desistiu de rebentar com o RT-16 e RT-32, em vez disso ofereceram-no ao governo da Letónia. Uma equipa de entrega, por sua vez, “preparou” os discos,atirando resíduos metálicos para os mecanismos, espetando pregos nos cabos e derramando àcido na parte electrónica. Felizmente as antenas foram construidas como barcos de guerra-- sendo drasticamente sobreestimadas pelo Exército Soviético. Assim contando apenas com o apoio nominal do governo da Letónia-- VIRAC é classificado como “Empresa Cientifica com responsabilidade limitada”-- um grupo de entusiastas de várias instituições científicas da Letónia determinaram as propriedades da antena, repararam os estragos, e transformaram-nos em radiotelescópios operacionais. A antena maior, RT-32 (“Little Star"), é bastante precisa— por todas as manobras da estrutura de 600 toneladas, o prato distorce menos de 0,5mm da sua forma paraboloidal. Com a feed horn instalada sintonizada para 11 Ghz (2.5 cm de comprimento de onda), o RT 32 foi usado para detectar radiação de planetas, da lua (alguns devido a tremores de lua) , do sol e de outras estrelas, e fontes extragalácticas incluindo possíveis buracos negros. Fora usado tambem para VLBI (Very Long Baseline Interferometry), no qual telescopios bastante separados são acoplados para produzir uma antena gigante do tamanho equivalente à distância entre eles. Mas a falta de fundos para reparar fugas de àgua no laboratório e para aumentar as instalações sanitárias da barraca de madeira da Era-soviética significa que o RT-32 deixa de ser explorado pelos astrónomos—dando abertura para ser tomado por um grupo de vagabundos dos media. (Como em verdadeiro espírito festivaleiro, trouxemos a casa de banho portátil)
O Acoustic.space.lab organizou três grupos de trabalho no RT-32 sob a orientação de Dmitrijs "Dima" Bezrukov. Dima lida com todos os aspectos do telescópio—electrotécnicos, software, realização de observações-- e é também se necessário, guarda, cozinheiro e condutor. Confiou em nós a ponto de nos dar acesso inlimitado, e assistido-nos com todo o tipo de recepção, mas com transmissão controlada(pois nenhum de nós possuia a licença requisitada). RT-32 está montado numa torre de cimento de 25 metros. Mesmo debaixo do disco está o quarto “submarino” completo com janelas redondas e uma torre cónica de 15 mts que dá acesso à superfície do prato, à feed horn no foco secundário, e—depois de uma escalada tremida pela treliça de suporte—o pequeno reflector no primeiro foco. Três grupos estabeleceram residência em várias partes da estructura. Macrolab montou a sua própria L-band (1.5 Ghz)alimentada no primeiro foco. Fiéis à proposta original, eles espiaram as comunicações de satélites. Canais análogos num Inmarsat cederam conversas familiares em Tamil e um drama menor sobre um emigrante ilegal, que rapidamente tomou tons burocráticos. Com o espírito das primeiras experiências de webstreaming/feedback, os ambientTV.NET esperavam localizar uma chamada e reencaminhá-la por um destes canais, interceptá-lo e depois retransmití~lo, mas logisticamente mostrou-se impossível.
Alimentados a borscht e Black Balsams ( o outro ouro negro dos Bálticos), o grupo acústico escalou o prato e guarneceu de microfones o foco primário e o secundário. Dima baixou o prato para zero de elevação e sondou o horizonte. Sob o vento ruidoso, os microfones captaram os sussurros da floresta de Irbene, ocasionais cantares de pássaros, conversas na superfície, e o gincho de uma travagem numa curva. O movimento do disco tambem gerava grunhidos e chiados sinusoidais espectaculares, consoantes em terceira e acompanhado de gritos estridentes do mundo submarino.
O grupo de radioastronomia tentou observar Venus, Jupiter, e o Sol. Com apenas algumas horas de observação, tornou-se difícil de isolar quaisquer sinais planetários entre o barulho, mas dados das sondagens solares estão a ser incorporadas em Java applets e traduzidos para MIDI pelo Mr. Snow (L'audible).
Tentativas para descer as frequências Ghz até um alcance audível provocou, como previsto, ruído branco. Mas isto foi comida suficiente para o Clausthome, que passou horas a manipular o audio indescritivel para ambientes sonoros industriais preenchedores e quentes.
De volta a Riga, o material reunido e processado durante quatro dias no telescópio foi transmitido via net num programa de seis horas da LMS Galerija com a participação da Kunstradio (arquivado em http://acoustic.space.re-
lab.net/lab).
Então, “ciência e arte” : um prato gigante na mão, e não cozinhamos nada em comparação ao que Alvin Lucier fez com um par de gravadores de cassetes. Não havia espaço para um dialogo significativo entre cientistas e artistas. Mas esperamos usar o acoustic.space.lab como rampa de lançamento para colaborações teóricas e técnicas mais profundas. O facto de que muito o que é observado, não só está muito afastado no espaço, como no tempo, a natureza reflexiva das medições VLBI sendo usadas para a geodésica—estes são pontos de partidapara projectos mais específicos e substanciais.

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